A lenda do boto narra a perseguição do animal as mulheres que viajam pelos rios e igarapés do Pará, tentando às vezes virar as canoas em que elas se encontram, sendo que suas investidas se acentuam contra a embarcação quando percebem que há mulheres menstruadas ou até mesmo grávidas.
Ele, o boto, é o grande encantado dos rios, que se transformando em um belo rapaz, todo vestido de branco e portando um chapéu – que é para esconder o furo no alto da cabeça, por onde respira – percorre as vilas e povoados ribeirinhos, frequenta as festas e seduz as moças desacompanhadas, levando-as para o fundo do rio, quase sempre as engravidando
Por essa razão, quando um rapaz desconhecido aparece em uma festa usando chapéu, pede-se que ele o tire para garantir que não seja um boto. Daí deriva o costume de dizer, quando uma mulher tem um filho de um pai desconhecido, que ele é “filho do boto”.
Para se livrarem da “influência” do bicho, os caboclos vão buscar ajuda na magia, apelando para os curandeiros e pajés. O primeiro, com suas rezas e benzeduras exorciza a vítima, e o segundo “chupa” o feto do ventre da infeliz. É esse Don Juan caboclo, o sedutor das matas, o pai de todos os filhos cuja paternidade é “desconhecida”.