Segundo a lenda, há muitos anos havia certa mulher que morava na praia do Farol Velho. Ela tinha um filho de dois anos que se chamava Manoel Torquato, mas como a própria não sabia pronunciar corretamente o sobrenome do seu filho, chamava-o então por “Trocatinho”. Certo dia, ela saiu de casa e deixou Trocatinho deitado em uma rede, quando retornou não o encontrou mais; desesperada, pensou que a criança tivesse morrido na praia. Passado alguns dias, uma certa noite ela teve um sonho. No sonho surgiu uma moça muito bonita e dizia que seu filho tinha sido levado pelos encantados do fundo do mar e que nunca mais iria vê-lo de volta. De fato aconteceu. Ela nunca mais teve contato com seu filho e logo morreu de tristeza. Iniciava-se, assim, a lenda do rei Trocatinho, o célebre encantado do Atalaia que se transformava em animais como boi, cachorro e, principalmente, em cobra e assombrava as pessoas que ali viviam. Mas o que ele mais fazia era aparecer, de uma hora para outra, para uma jovem chamada Maria da Onça.
No Farol Velho, moravam quatro faroleiros que prestavam serviços náuticos. Teotônio era o mais velho e estava de serviço naquela noite, quando, de repente, apareceu um moço muito estranho pedindo que lhe mostrasse o serviço que é feito naquela área, no entanto, se mostrava sempre muito preocupado com o aproximar da noite que vinha chegando e, antes que escurecesse, mesmo no meio da conversa, ele ia embora, se retirava em direção ao Rio Arapepó. Com a amizade feita com os faroleiros, o moço passou a visitar frequentemente o farol até que, em uma dessas visitas, esqueceu do tempo em meio às conversas com os amigos e não percebeu que havia anoitecido, então saiu rodopiando escada abaixo, transformando-se em uma cobra grande, e os faroleiros, muito apavorados com o que estava acontecendo, saíram correndo dali. Após alguns dias, ele retornou como um cavaleiro, se explicando como sendo um encantado e pediu ajuda a Teotônio para desfazer o encante. Tudo que este teria que fazer era levar o rapaz até o mar e, no momento em que ele estivesse transformado em cobra, teria que cortar a cauda da serpente, mas Teotônio não teve coragem, e como o Trocatinho percebeu que não teria solução para acabar com o seu encanto, resolveu perturbar os moradores se transformando em cobra, cachorro, boi e até em pedaço de madeira, que poderia ser cortado por machado para perder o encanto, mas ficava boiando sobre as águas e acabava por bater nas embarcações.